Agir para não ser desdenhado

03/03/2016

Agir para não ser desdenhado

As médias e grandes cidades brasileiras, na maioria dos casos, ainda ressentem os efeitos negativos causados pelo excessivo uso do automóvel, pela falta de organização dos serviços de entregas de cargas e ainda da carência de investimentos em transporte público de qualidade.

Com o anúncio do Brasil como sede da Copa do Mundo de futebol em 2014, o tema mobilidade urbana caiu nas graças, não da torcida, mas da mídia e dos inúmeros deba¬tes que pautaram a questão - senão o problema - dos deslocamentos urbanos, com o objetivo de proporcionar um desenvolvimento mais sustentável.

Infelizmente, o que foi prometido como legado pós Copa, não passou de uma tímida tentativa de transformação das cidades, entre outros pontos, quanto ao transporte coletivo e mobilidade urbana.

Os serviços de ônibus foram os escolhidos para receberem uma nova imagem, mais moderna e com vantagens. Das capitais que optaram pela configuração desse novo olhar, Belo Horizonte e Rio de Janeiro, só para citar, proporcionaram algo diferente, com a implantação de corredores rápidos para facilitar o cotidiano de seus habitantes, ainda que parcialmente diante do tamanho destas capitais, porém representando um grande passo diante do cenário que tinham.

Em outras cidades, as tentativas ficaram no papel ou então até tiveram início, mas com projetos que ainda não foram finalizados, seja pela falta de comprome¬timento governamental ou em função da incapacidade técnica de ver o ônibus como uma solução viável ao transporte público.

Ainda falando da capital fluminense, os Jogos Olímpicos deste ano representam uma excelente oportunidade de investimentos na área do transporte. A cidade do Rio de Janeiro tem se destacado na melhoria de sua mobilidade urbana, com a construção de corredores exclusivos para ônibus. Atualmente são dois sistemas implantados e até meados deste ano, mais um ganha vida operacional. No modal férreo, o centro da cidade será contemplado com um sistema de VLT (Veículo

Leve sobre Trilhos) integrado à outros modais.

Aliás, o exercício de ações em prol ao transporte público e mobilidade urbana precisa deixar de ser apenas temática de seminários, congressos e debates para ter sua importância explorada. Não irá demorar muito e essas quatro palavras (citadas anteriormente) não mais terão credibilidade junto a nossa sociedade, em que parte ainda não vê a gravidade de um engessamento dos espaços públicos.

O segmento, que é muito mais que o fato de levar e trazer as pessoas, precisa ser entendido pela opinião pública como indutor de um desenvolvimento apoiado no planejamento, onde as decisões precisam ser dinâmicas e fundamentadas nos princípios de projetos viáveis e eficientes. Nestas palavras, não se questiona a posse do automóvel, mas sim o seu uso racional.

Imobilidade urbana gera altos custos à todos nós. Apenas em 2013, nas duas maiores cidades brasileiras (São Paulo e Rio de Janeiro), estima-se que foram gastos R$ 98 bilhões com a queima extra de combustível e tempo perdido dos cidadãos em congestionamentos. 

E, nos últimos 15 anos, os serviços de ônibus urbanos, de uma maneira geral, perderam entre 20 e 30 milhões de usuários, a nível nacional, em virtude dos congestionamentos e do incentivo ao transporte individual. Para reverter esse quadro negativo é necessário fixar prioridades ao modal e ao transporte coletivo, fatores determinantes para o futuro das cidades. Por exemplo, faixas e corredores exclusivos e os sistemas de BRT (no português Trânsito Rápido de Ônibus) significam ganhos operacionais, ambientais e de qualidade de vida para as pessoas.

Nesse contexto, é preciso um olhar além da natureza singela do conceito ônibus para vermos que a evolução também é uma palavra que faz parte em sua vida. Hoje, tem-se a disposição do mercado brasileiro veículos caracterizados pela inovação, com itens de atratividade que melhoram a relação conforto, acessibilidade e serviços. Podemos encontrar carroçarias extremamente modernas, com design elegante (semelhante aos bondes modernos), configuração interna que promove um melhor ambiente ao passageiro, com mais segurança e conforto; embarque e desembarque facilitados; chassis com motorização localizada na traseira ou no entreeixos, maior potência dos propulsores, transmissão automática, suspensão pneumática, ar-condicionado, dentre outros aspectos tecnológicos; e trações alternativas (elétrica, a gás natural, híbrida), com um caráter ambiental, capaz de reduzir as emissões poluentes.

Durante a COP 21 de 2015, Conferência das Nações Unidas sobre Mudança Climática, a importância do ônibus com propulsores alternativos e limpos foi salientada por governantes e especialistas, que defendem modificações urgentes, buscando-se um ambiente urbano qualificado.

Como se vê, a crise da mobilidade insiste em continuar a dar as caras, as soluções aos problemas precisam ser urgentes, para que a confiança ao transporte público não fique fixada apenas em páginas de jornais, revistas e meios eletrônicos de comunicação, em congressos e eventos técnicos. Uma cidade com melhor mobilidade é boa para todos.


Antonio Ferro 
Revista AutoBus.