ÁUDIO: Em média, oito profissionais de transportes morrem por mês na capital paulista, dizem empresas de ônibus

12/04/2021

Fonte: Diário do Transporte

Mudanças operacionais poderiam ajudar na fluidez dos ônibus e reduzir lotação

Por mês, cada empresa registra uma média de 150 afastamentos; Profissionais aguardam cronograma de vacinação; Estratégias operacionais podem ajudar a reduzir aglomerações

ADAMO BAZANI

Em média, oito profissionais da linha de frente dos transportes municipais de São Paulo morrem por mês por causa da covid-19.

Os dados fazem parte de levantamentos de entidades que representam as empresas de ônibus e os trabalhadores.

De acordo com o assessor especial da Urbi-SP (Associação das Empresas de Mobilidade e Transporte Coletivo de São Paulo), Nivaldo Azevedo, o quadro é considerado pelas transportadoras como de catástrofe.

“É uma catástrofe mundial e o transporte coletivo está no centro desta pandemia porque os condutores estão no dia a dia, na linha de frente e estas pessoas se contaminam e muitos morrem. Infelizmente todos os dias, sabemos que mais um está entubado, mais um perdeu a vida. Para ter uma ideia, a média de empresas com dois mil ou três mil funcionários é de oito mortos por mês” – disse

Para o representante, é sensato que as autoridades incluam o mais rapidamente possível os trabalhadores de transportes em cronogramas de vacinação contra a covid-19, com mais urgência que para a vacinação contra o vírus influenza, causador da gripe.

Na última semana, o secretário municipal de Saúde de São Paulo, Edson Aparecido, incluiu os trabalhadores dos transportes coletivos para a vacinação contra a gripe na terceira fase da campanha de imunização que ocorre entre os dias 09 de junho de 09 de julho.

Relembre:

https://diariodotransporte.com.br/2021/04/08/prefeitura-de-sao-paulo-define-cronograma-de-vacina-contra-a-gripe-com-profissionais-do-transporte-coletivo-sendo-imunizados-a-partir-de-09-de-junho/

“A gente não teve o retorno como deveria ser [do poder público], houve recentemente o anúncio do secretário de Saúde para a vacinação contra a influenza, mas acreditamos que é um equívoco, a vacina de covid-19 deve ser aplicada com muito mais urgência que da influenza. É bom que os condutores sejam vacinados contra a gripe, mas da covid-19 é mais urgente” – disse.

O alto número de trabalhadores de transportes em São Paulo contaminados ou com suspeitas tem prejudicado a quantidade de funcionários disponíveis para o trabalho.

O presidente do SPUrbanuss (Sindicato das Empresas de Transporte Coletivo Urbano de Passageiros de São Paulo), Francisco Christovam, afirmou que por mês são em média 150 afastamentos em cada viação por razões médicas.

“A gente tem recebido um número de atestados muito alto, beira a 150 atestados por mês por empresa, entre nossas associadas, e isso é próprio da situação que estamos vivendo. Todo trabalhador, quando sente qualquer mal estar, dor de cabeça, dor de garganta, vai ao médico e é afastado. Há veículos que não conseguimos colocar em circulação por falta de tripulantes, ou motorista ou cobrador” – disse.

Christovam disse que a frota de ônibus disponível tem sido colocada em circulação e que estratégias operacionais podem ajudar a reduzir as aglomerações, como criação de linhas expressas e semiexpressas e reforço de viagens em trechos de maior movimento.

“Todas as nossas empresas têm colocado 100% da frota disponível [o que não é a frota total], as aglomerações estão ocorrendo não é por causa de frota, mas por outros fatores, como a ausência de escalonamento dos horários das atividades econômicas. No pico da manhã, chegamos a mais de 600 mil viagens ocorrendo somente em uma hora”-

Segundo o representante, eventuais alterações são discutidas entre empresas e poder público.

“Fazer retornos operacionais, em vez de ter Santo Amaro/Praça da Bandeira, pode colocar Santo Amaro com retorno na Juscelino, poderíamos ter duas linhas, uma Santo Amaro/Juscelino e outra Juscelino/Centro com frota maior onde há trecho de maior demanda” – exemplifica.

Em relação à contratação de motoristas temporários para substituir os afastados e não desfalcar operações, Nivaldo Azevedo disse que o processo de contratação de um condutor de ônibus é complexo e passa por treinamentos e cursos específicos, não bastando ter apenas a CNH categorias D (comuns) ou E (articulados).

“Para contratar um motorista hoje, demora mais ou menos entre 30 dias e 40 dias para deixar apto. Além de esse profissional ter de fazer um curso de transporte coletivo, precisa passar por um treinamento, que é o que contrato diz e fazemos. Contratar um motorista de forma emergencial pode-se criar um problema de segurança para o passageiro” – disse.

De acordo com um levantamento divulgado em 24 de março de 2021, pelo SindMotoristas, que representa os trabalhadores, mais de 80 profissionais dos transportes morreram por causa da covid-19 até então desde o início da pandemia no Brasil em março do ano passado.