Bancos sinalizam interesse na eletrificação da frota de ônibus da capital paulista e SPTrans firma convênios internacionais

07/11/2019

Bancos sinalizam interesse na eletrificação da frota de ônibus da capital paulista e SPTrans firma convênios internacionais

Modelo de leasing é um dos mecanismos que pode facilitar a introdução da tecnologia

Fonte: Diário do Transporte 

 

São Paulo tem atualmente um projeto piloto na Transwolff com 15 ônibus a bateria fabricados pela BYD. Os veículos começam a operar em poucos dias.


Alexandre Pelegi / Adamo Bazani 

Bancos e agentes financeiros têm demonstrado interesse na renovação da frota paulistana. A informação é da organização C40 Cities, que conecta 94 das maiores cidades do mundo para que adotem ações climáticas ousadas, “abrindo caminho para um futuro mais saudável e sustentável”.

A Prefeitura da capital fechou uma parceria com a C40 e o ICCT – Conselho Internacional de Transporte Limpo no dia 08 de outubro deste ano, mas a autorização do convênio só foi publicada nesta quinta-feora, 07 de novembro de 2019. O objetivo é acelerar a transição para ônibus com zero emissões de poluentes e gases de efeito estufa.
 


O vice-diretor regional para a América Latina da C40, Ilan Cuperstein, afirmou por meio de nota que a eletrificação do transporte público está levando ao surgimento de novos modelos de negócio em todo o mundo.

“São Paulo certamente não será exceção” disse.

Além do acordo de cooperação técnica com as organizações internacionais, São Paulo é uma das cidades apoiadas pelo projeto ZEBRA de aceleração da transição para ônibus zero emissões na América Latina.

O projeto, liderado pela C40 e pelo ICCT, busca garantir o compromisso das cidades, da indústria e das entidades financeiras para implantação de tecnologias limpas de transporte, desenvolvendo para isso atividades que favoreçam a troca de informações e interlocução.

Ilan Cuperstein garantiu que novos formatos de financiamento e a redefinição dos serviços oferecidos por fabricantes e encarroçadores está alterando a maneira como os operadores gerenciam seu negócio.

“De donos de frotas, responsáveis por sua compra, manutenção e posterior venda, eles tendem a se tornar operadores do serviço do transporte, focados na sua qualidade, e repassando as demais tarefas para terceiros”, explica.

O representante da C40 ressaltou ainda que antes as empresas operadoras de ônibus de São Paulo tinham de prover todos os recursos para a aquisição e operação dos veículos. Cuperstein alega que isso mudou. Hoje existem novos modelos que facilitam a entrada dos veículos elétricos na frota paulistana.

Isso será possível, por exemplo, caso um fundo de investimento privado se responsabilize pela compra do veículo e ofereça ao operador por meio de um contrato de aluguel ou leasing.

Outra forma seria as empresas operadoras se responsabilizarem pela compra do “esqueleto do veículo” (chassis e carroceria), enquanto outro parceiro privado provê a bateria, que pode custar até quase 50% do valor total do veículo.

Segundo comunicado da C40, “estes novos modelos diminuem substancialmente a necessidade de capital inicial do operador privado, que usualmente tem dificuldade de contrair crédito. Ao mesmo tempo, estes negócios se beneficiam das economias operacionais de ônibus a bateria”.

RESSALVA DOS EMPRESÁRIOS:

Entretanto, a substituição da frota é vista com ressalva pelos empresários de ônibus da cidade.

De acordo com o presidente do SPUrbanuss, sindicato que reúne as viações que operam com os veículos maiores, Francisco Christovam, não há no mercado opções suficientes de ônibus com tecnologia alternativa ao diesel.

“Primeiro, não há uma confiabilidade plena sobre a oferta destes veículos em quantidade suficiente para o tamanho da frota de São Paulo. Depois tem a confiabilidade operacional para grandes frotas. Há garagens com mais de 800 ônibus, como vai ser a recarga desta frota se ela for elétrica, como vai ser a infraestrutura e a autonomia das baterias? O cumprimento das reduções das emissões certamente é um dos pontos que mais nos preocupam nestes novos contratos” – disse ao Diário do Transporte, após um seminário para discutir os novos contratos de ônibus da cidade promovido pela entidade patronal no Instituto de Engenharia, nesta quarta-feira, 06 de novembro de 2019, com mais de 200 pessoas no auditório e transmissão pela internet.

Desde janeiro de 2018, está em vigor na cidade de São Paulo, a lei 16.802, que estipula metas de redução de emissões de poluentes pelos caminhões de serviços púbicos e ônibus das linhas municipais para os anos de 2027 e 2037.

A lei substitui o artigo 50 da Lei de Mudanças Climáticas de 2009 que previa que em 2018 nenhum ônibus mais seria movido a combustível fóssil e que acabou não sendo cumprida.

Pela lei sancionada no início de 2018, após um ano de intensos debates na Câmara Municipal, em 2027, as emissões de CO2 (gás carbônico) devem ser 50% menores e zeradas em 2037. Já as reduções de MP (materiais particulados) devem ser de 90% até 2027 e de 95% em 2037. As emissões de Óxidos de Nitrogênio devem ser reduzidas em 80% até 2027 e em 95% até o ano de 2037.

Além desta lei, os contratos assinados com as empresas de ônibus em 06 de setembro de 2019, determinam reduções ano a ano das emissões de poluentes atmosféricos.

No evento desta quarta-feira, o consultor Olimpio Álvares, disse que as metas anuais devem representar uma dificuldade. Simulações apresentadas pelo especialista demostram que para atender estas exigências ano a ano, será necessária uma grande frota de ônibus elétricos puros logo nos primeiros anos dos novos contratos. Outras tecnologias, como o diesel hidrogenado e o biometano comporiam a transição de redução de poluentes. A questão é, segundo Olimpo, que hoje, mesmo não havendo testes mais amplos, a única tecnologia disponível é a do ônibus elétrico.

O especialista disse ainda que a lei de 2009, que tinha metas impossíveis de atender na época, gerou uma perda de tempo, isso porque seria mais razoável a implantação de pequenas frotas menos poluentes.

“Com exceção da China, que tem números e necessidades bem ampliadas, diversos sistemas começaram testes com pequenas frotas, ampliadas de forma gradativa e racional“, declarou Olimpio.

Relembre a reportagem sobre o seminário:

https://diariodotransporte.com.br/2019/11/06/novos-contratos-de-concessao-preveem-multas-de-ate-r-15-bilhao-em-10-anos-em-caso-de-descumprimento/

FROTA NA ZONA SUL:

Como mostrou o Diário do Transporte, São Paulo tem atualmente um projeto piloto com 15 ônibus a bateria fabricados pela BYD. Os veículos 100% elétricos já estão na garagem da empresa Transwolff, na zona Sul da capital paulista. Relembre: Transwolff já está com os 15 ônibus elétricos da BYD

Desses veículos, 12 unidades têm carroceria Caio modelo Millennium IV, e outros 03 são Marcopolo Torino LE. Os veículos estão recebendo os últimos ajustes de configuração para o sistema de São Paulo, como a implantação de validadores e adesivos, e devem começar a operar ainda neste mês de novembro.

A nova concessão do transporte público da capital, cujos contratos foram assinados no último dia 6 de setembro, prevê a total renovação da frota de 14 mil veículos nos próximos 15 anos.

A organização C40 acredita que pelo menos seis mil novos ônibus estejam circulando na capital paulista até o final do próximo ano, “em um dos mais ambiciosos projetos de corte de emissões do transporte público no mundo”.