Efeitos da pandemia obrigaram mudanças na mobilidade em São Paulo que demorariam décadas para acontecer, diz Ricardo Teixeira

01/10/2021

Fonte: Diário do Transporte

Para secretário de Mobilidade e Trânsito, diminuição de demanda de ônibus e maior busca por deslocamentos a pé e de bicicleta devem ser melhor observados; Participação em transportes metropolitanos também foi citada, mas ainda EMTU e SPTrans não andam juntas, e, em passado recente, parecia haver até uma rivalidade que prejudicou passageiros

ADAMO BAZANI

O secretário de Mobilidade e Trânsito da cidade de São Paulo, Ricardo Teixeira, disse durante audiência pública sobre a revisão do Plano Diretor de São Paulo, na tarde desta quinta-feira, 30 de setembro de 2021, que a pandemia de covid-19 acelerou a necessidade de mudanças nos deslocamentos dos principais centros urbanos e com a capital paulista não foi diferente.

Para Teixeira, o momento é ideal para discutir a revisão do plano sob o aspecto da mobilidade, uma vez que, segundo o secretário, no último ano e meio, em decorrência da pandemia, “houve uma transformação total” de costumes da cidade.

Entre os aspectos destacados pelo chefe da pasta estão a queda da demanda de passageiros dos ônibus da cidade de São Paulo com a dúvida se vão ou não recuperar os patamares de antes da pandemia e a procura maior por deslocamentos não motorizados, como a pé e de bicicleta.

Para Teixeira, o que demoraria décadas para ocorrer acabou acontecendo durante a pandemia.

O secretário disse que na última semana, técnicos de Mobilidade de Paris estiveram em São Paulo e disseram que vias para bicicletas faixas de rolamento de carros montadas provisoriamente durante a pandemia se tornarão espaços permanentes.

“Veja como as coisas mudaram. Como nós tivemos neste um ano e meio uma mudança que poderia ter levado até décadas se não fosse essa questão da pandemia. Mudou o hábito não somente na cidade de São Paulo, mas em todo o Planeta. Na semana passada vieram técnicos da França em São Paulo. A prefeitura em Paris criou uma faixa de rolamento no viário principal da cidade que seria uma faixa provisória para bicicleta. Essa faixa provisória deve demorar uns 20 anos para ser tirada porque do jeito que a população recebeu bem, vai se tornar faixa de bicicleta definitiva” – disse

BILHETAGEM ELETRÔNICA:

Nas linhas gerais da apresentação do Plano, além da expansão de infraestrutura para ônibus e bicicletas, um dos pontos destacados foi a melhoria da tecnologia empregada na bilhetagem eletrônica.

Com isso, são esperados mais investimentos para que o Bilhete Único seja menos suscetível a fraudes e tenha mais formatos de pagamento das tarifas.

SISTEMAS DE TRANSPORTES METROPOLITANOS:

Outro ponto destacado na apresentação foi que um dos objetivos da revisão do Plano Diretor é colaborar com a implantação de sistemas de transportes metropolitanos.

Apesar da integração entre Metrô/CPTM e linhas municipais de ônibus gerenciadas pela SPTrans (São Paulo Transporte), ainda há pouca complementação entre os deslocamentos metropolitanos e municipais que, muitas vezes, são feitos pela mesma pessoa.

O grande problema ocorre nos sistemas sobre pneus. Não há integração tarifária entre ônibus municipais gerenciados pela SPTrans e os metropolitanos gerenciados pela EMTU (Empresa Metropolitana de Transportes Urbanos).

Diário do Transporte noticiou entre 2018 e 2019 quase que uma “disputa” entre SPTrans e EMTU, com a gerenciadora da capital paulista proibindo a entrada de ônibus metropolitanos em alguns trajetos da cidade de São Paulo.

Os passageiros da EMTU eram deixados em um ponto da cidade e se quisessem continuar viagem, tinham de pagar outra tarifa da SPTrans e esperar mais um ônibus, que demorava porque a rede de corredores municipais é insuficiente.

A SPTrans teve de voltar atrás em alguns cortes.

É fato que ônibus municipais e metropolitanos coincidem trajetos dentro da cidade, mas sem integração tarifária e uma maior infraestrutura de corredores e terminais, apenas cortar linhas vindas de outras cidade pode prejudicar o passageiro e beneficiar apenas os empresários de ônibus da capital paulista.

Também marcou a proibição por parte da cidade de São Paulo de um serviço de ônibus por aplicativo de empresa regular do sistema EMTU que fazia a ligação entre São Bernardo do Campo, no ABC Paulista, e a Berrini, na zona Sul de São Paulo.

Ônibus rodoviários de alto padrão para sistema metropolitano, mesmo autorizados pela EMTU, foram barrados pela SPTrans como se fossem clandestinos.

O então Secretário Municipal de Mobilidade e Transportes, Edson Caram, disse à época que era necessário maior estudo de impacto dos 12 ônibus por dia útil no trajeto.

Relembre: https://diariodotransporte.com.br/2019/10/01/gestao-bruno-covas-chama-ubus-de-clandestino/

A explicação na época não convenceu a todos e ganhou uma força a versão de que este serviço de ônibus desagradaria grupos de donos de viações na capital paulista, em especial na zona Sul, muitos com grande atuação na Câmara Municipal de São Paulo.

Adamo Bazani, jornalista especializado em transportes