ESPECIAL: Capital paulista tem empresas de ônibus que operam com idade média de frota acima de sete anos

10/08/2018

ESPECIAL: Capital paulista tem empresas de ônibus que operam com idade média de frota acima de sete anos

Fonte: Diario do Transporte

 

Viações falam em incertezas pelo fato de a licitação ainda não ter saído do papel. SPTrans afirma que por causa de contratos emergenciais, não há mais exigência de idade média, só de máxima

ADAMO BAZANI

Enquanto a nova estrutura operacional do sistema de ônibus na cidade de São Paulo não é definida pelo fato de a licitação do sistema não ter sido realizada desde 2013, quando venceu o prazo inicial dos contratos com as empresas, o paulistano é obrigado a andar em coletivos mais velhos, muitos dos quais que não oferecem o mesmo nível de conforto e redução de emissões de poluentes atmosféricos e de ruídos que os modelos mais atuais, que saem das fábricas.

Levantamento com base em dados da Lei de Acesso à Informação mostra que diversas empresas de ônibus da cidade, tanto do subsistema estrutural (viações que operam os veículos maiores que passam pela região central) como do subsistema local (as ex-cooperativas, que operam nos bairros) estão rodando com frota de idade média superior a cinco anos.

No subsistema estrutural, por exemplo, apenas a Viação Campo Belo, na zona Sul de São Paulo, com idade média de 03 anos e 02 meses, e a Sambaíba, na zona Norte, com 04 anos e 11 meses, têm idade abaixo de cinco anos.

Algumas empresas estavam até 15 de julho de 2018 com idade média de frota acima de sete anos, como é o caso da Via Sul, na zona Sul, com 07 anos e 02 meses; da Viação Santa Brígida, na zona Oeste, com 07 anos e 03 meses; e Transkuba, também na zona Sul, com 07 anos e 04 meses.

No subsistema local, apesar de a frota ser um pouco mais nova que das empresas das linhas estruturais, há companhias com médias de idade elevadas, como a Imperial Transportes, na zona Leste, com idade média de 07 anos e 11 meses até 15 de julho de 2018, dado mais recente da SPTrans – São Paulo Transporte, que gerencia o sistema de ônibus da cidade.

De acordo com a gerenciadora, pelo fato de todo o sistema de transportes estar operando com contratos emergenciais, apenas é exigida das companhias de ônibus idade máxima de frota e não mais idade média, como ocorria enquanto os contratos assinados em 2003, ainda na gestão de Marta Suplicy, ainda estavam em vigor.


EMPRESAS – IDADE MÉDIA DE FROTA
 

A idade máxima dos ônibus deve ser de 10 anos, mas há tolerâncias que podem aumentar o limite, sendo admitidos veículos com idade superior, na prática.

A SPTrans contabiliza o ano-modelo do ônibus e não da fabricação do chassi.

Se o chassi tivesse sido produzido em 2007, por exemplo, mas é de modelo 2008 com o encarroçamento, ele poderá ficar no sistema até 2019.

Isso porque, além de ser considerado o ano-modelo e não da produção, por causa do sistema de contratos emergenciais ainda é dado um acréscimo de 12 meses a este ônibus.

Uma resolução municipal estabelece que atingindo 10 anos, o ônibus pode ficar operando por mais um ano se for submetido a cada dois meses a inspeções da SPTrans que usam uma metodologia denominada FEC – Fator de Estado de Carroceria/Chassi.

O estado será considerado ótimo, caso apenas até 10% dos componentes do ônibus com 10 anos precisarem de substituição ou reparo. O ônibus que completou 10 anos é considerado bom se até 25% dos componentes precisarem de troca ou reforma. Caso até 55% do ônibus necessitem de reparo, o estado é considerado regular. O ônibus é considerado em estado ruim caso mais de 85% de seus itens precisem de troca ou reforma.

Atualmente, segundo os indicadores da SPTrans, a média de idade dos ônibus do subsistema estrutural é de seis anos e do subsistema local, de cinco anos, as maiores desde 2013, quando as empresas começaram a operar com aditivos contratuais (subsistema estrutural)  ou com contratos emergenciais (subsistema local e a área 4 Leste do subsistema estrutural).

Desde 22 de julho de 2018, todas as empresas da cidade operam com contratos emergenciais. A prefeitura tentou prorrogar por mais um ano os contratos com as empresas do subsistema estrutural que já estavam no último aditivo, mas o TCM – Tribunal de Contas do Município se manifestou contrariamente e a prefeitura firmou então a partir desta data contratos emergenciais de seis meses com as viações das linhas estruturais.

RENOVAÇÕES:

Os dados obtidos por meio da Lei de Acesso à Informação mostram o ritmo de renovação da frota de ônibus na cidade de São Paulo entre 1º de janeiro de 2015 e 15 de julho de 2018.

Recentemente, o prefeito de São Paulo, Bruno Covas, fez o anúncio de inclusão de cerca de dois mil ônibus novos desde janeiro de 2017, início da gestão de seu antecessor, João Doria.

Relembre:

https://diariodotransporte.com.br/2018/07/20/sao-paulo-recebeu-2-mil-onibus-desde-janeiro-de-2017-e-prefeitura-confirma-subsidios-em-torno-de-r-3-bi-para-este-ano/


Os dados oficiais da SPTrans mostram que a intensidade de renovação de frota não tem expandido de maneira significativa.

Entre janeiro de 2015 e 15 de julho de 2018, foram colocados em circulação, 4063 ônibus novos, sendo 2056 no subsistema estrutural e 2007 no subsistema local.

Apesar de o número absoluto de renovação ser maior entre as empresas das linhas estruturais, proporcionalmente à frota, são estas empresas que menos renovaram em comparação com as ex-cooperativas.

A cidade tem, ao todo, 14.382 ônibus na frota contratada, sendo 8.394 no subsistema estrutural e 5.988 no subsistema local.

Em nota ao Diário do Transporte, a SPTrans diz que a diferença entre o ritmo de renovação dos dois subsistemas pode ser explicada pela forma de operação nas linhas de bairros, que têm menor infraestrutura desgastando mais os ônibus e obrigando trocas mais constantes de veículos. A SPTrans diz ainda que não há punições às empresas pela idade média avançada já que os atuais contratos emergenciais só estipulam idade máxima.

“A SPTrans esclarece que os contratos do sistema municipal de transporte em vigor preveem idade máxima dos veículos e não idade média. No Subsistema Local a vida útil dos ônibus é menor, pois envolve rotina mais intensa de uso em virtude da topografia acentuada de algumas vias. A SPTrans informa que não há cláusulas, nos contratos vigentes, que indicam uma punição relacionada à idade média da frota.”

O presidente do SPUrbanuss, que reúne as viações do subsistema estrutural (hoje com os ônibus mais velhos), Francisco Christovam, disse ao Diário do Transporte que enquanto não houver a definição da licitação do sistema, as empresas não vão se sentir seguras para comprar ônibus novos como no período de vigência de contratos estabelecidos.

“Vivemos muitas incertezas ao mesmo tempo. Temos várias dúvidas. A primeira é financeira, ou seja, como vai ficar o sistema e sua remuneração. São investimentos altos e quem concede crédito para financiar ônibus quer uma segurança de contrato, uma garantia. A segunda dúvida é operacional. Como vai ficar a disposição das linhas? Isso determina o tipo de frota. Parte do subsistema estrutural hoje pode vir a operar o novo sistema proposto de articulação regional, que não demanda necessariamente os mesmos tipos de ônibus hoje usados pelos operadores no estrutural” – disse Christovam, que acrescentou também que as empresas ainda não têm certeza do que fazer diante das exigências de troca de frota por modelos menos poluentes, como determina lei municipal sancionada em janeiro, cujo cronograma vai integrar os editais da licitação.

“A terceira dúvida é justamente a questão tecnológica. A legislação municipal, a ser regulamentada, estipula um cronograma de redução de poluição pelos ônibus, mas há algumas questões sobre os modelos alternativos ao diesel. Não é só o motor, se é a combustão ou elétrico, mas a disponibilidade das matrizes de energia, infraestrutura para recarga de baterias no caso dos elétricos e tempo de recarga. Sobre os combustíveis, além do diesel, quais opções temos de fato? E em qual quantidade? Qual o preço? Como é a distribuição destes possíveis outros combustíveis? Todos estão regulamentados pela ANP? Pelo Governo Federal? Perceba, são muitas as questões que impedem investimentos maiores até uma definição.” – disse Francisco Christovam.

Mesmo assim, o representante das companhias de ônibus disse que as viações estão renovando as frotas e que há chassis e carrocerias sendo encomendados.

SUBSISTEMA LOCAL COM AS EMPRESAS QUE MAIS RENOVARAM:
 

Ainda de acordo com os dados da Secretaria Municipal de Mobilidade e Transportes obtidos por meio da Lei de Acesso à Informação, as duas empresas que mais colocaram ônibus novos no sistema da capital paulista são do subsistema local, que tiveram origem em cooperativas.

A maior delas é a Transwolff, que atua em duas áreas operacionais da zona Sul.

De janeiro de 2015 a 15 de julho de 2017, a companhia que teve origem na antiga Cooper Pam, comprou 504 ônibus. A frota atual da Transwolff é de 1211 veículos, a terceira maior empresa da cidade de São Paulo em termos de frota contando os subsistemas estrutural e local.

Procurada pelo Diário do Transporte, por meio de nota, a Transwolff afirmou que vai continuar renovando a frota. Para a empresa, além de melhorar a prestação de serviços, ônibus novos reduzem os custos de manutenção.

“A Transwolff investiu pesadamente na renovação da frota sim, e vai continuar a fazê-lo, por acreditar que o usuário merece um serviço de qualidade a qualquer tempo e também por exigência contratual. Além disso, um ônibus novo tem custo operacional mais baixo, por necessitar de menos manutenção.”

A segunda empresa que mais tem renovado a frota é a Norte Buss, com 475 ônibus novos desde janeiro de 2015 até 15 de junho de 2018. A companhia também é do subsistema local, atua na zona Norte e tem origem na antiga cooperativa Transcooper.  A Norte Buss tem frota total de 1046 ônibus.

A terceira empresa que mais comprou ônibus neste período foi a Viação Campo Belo, com 447 veículos novos. Pertencente ao grupo do empresário José Ruas Vaz, a empresa atua no subsistema estrutural, com operação na zona Sul. A Viação Campo Belo tem frota de 595 ônibus.

A quarta empresa de ônibus que mais comprou veículos novos é a VIP, do grupo do empresário José Ruas Vaz e do empresário Carlos de Abreu com 336 ônibus novos entre janeiro de 2015 e 15 de julho de 2018. A empresa tem diversas garagens, é do subsistema estrutural e atua nas zonas Sul e Leste da cidade de São Paulo. A VIP é a maior empresa de ônibus da cidade em relação à frota com 1638 veículos.

A quinta empresa que mais comprou ônibus novos de acordo com os dados oficiais foi a Sambaíba Transportes Urbanos, do empresário Belarmino de Ascenção Marta. Entre janeiro de 2015 e 15 de julho de 2018, foram 329 veículos novos. A Sambaíba é do subsistema estrutural, opera na zona norte de São Paulo e tem frota total de 1239 ônibus, sendo a segunda maior frota da capital.

LICITAÇÃO INDEFINIDA:

Está novamente nas mãos do conselheiro Edson Simões, do TCM – Tribunal de Contas do Município, a decisão de liberar ou não a licitação dos transportes na cidade.

Em nota ao Diário do Transporte nesta quinta-feira, 09 de agosto de 2018, o órgão de contas disse que as respostas apresentadas pela secretaria aos 90 apontamentos que fez sobre os editais lançados pela gestão Doria/Covas, ainda estão sendo analisadas pela área técnica do TCM. Só depois desta análise é que o conselheiro Edson Simões dará o parecer para o prosseguimento ou não da concorrência como está ou se vai determinar grandes alterações

“O Tribunal de Contas do Município de São Paulo (TCM), por meio da Assessoria de Imprensa, informa que a licitação dos serviços de transporte de passageiros por ônibus ainda se encontra sob análise da área técnica deste Tribunal. Tão logo seja concluída essa etapa, o relatório da auditoria será encaminhado para conhecimento do gabinete do relator dessa matéria no âmbito do TCM.”

Não há uma data-limite para a conclusão da análise pela área técnica e para a manifestação do Conselheiro Edson Simões.

Relembre:

https://diariodotransporte.com.br/2018/06/09/licitacao-dos-onibus-sp-tcm/