Ônibus em São Paulo perde preferência e população passa a defender financiamento extra-tarifário

15/10/2020

Fonte: Diário do Transporte

É o que diz pesquisa Ibope/Rede Nossa São Paulo. A superlotação do transporte coletivo é a principal preocupação dos passageiros também no pós-pandemia

ADAMO BAZANI

Mesmo com a pandemia de Covid-19, o ônibus é ainda o principal meio de transporte na capital paulista, mas perdeu a preferência por causa do medo de contágio pelo novo coronavírus.

É o que aponta pesquisa “Viver em São Paulo: Mobilidade Urbana”, realizada pela Rede Nossa São Paulo em parceria com o Ibope Inteligência, divulgada nesta quinta-feira, 15 de outubro de 2020.

Segundo o levantamento, 35% das pessoas entrevistadas declararam usar ônibus na cidade para se deslocar regularmente neste ano. Em 2019, eram 47% das pessoas entrevistadas.

Já o uso do carro subiu. No ano passado, 20% declararam o transporte individual como principal meio de deslocamento e, na edição de 2020, o índice foi para 25%.

O deslocamento a pé cresceu também com a pandemia e foi de 6% para 2019 para 15% neste ano, de acordo com a pesquisa.

MEDO E LOTAÇÃO AFASTAM PASSAGEIROS DOS ÔNIBUS:

As pessoas estão com medo de se contaminarem pelo Covid-19 não pelo transporte em si, mas por causa da lotação, que se tornou o principal motivo para deixar os ônibus, superando questões como demora para passar nos pontos e preço da tarifa.

“Medo de pegar coronavírus e ônibus muito cheios são os motivos mais importantes para escolha de outros meios de transporte ao invés dos ônibus municipais para cerca de um terço da população paulistana – ambos com 35% do total das menções. A utilização de carro é mencionada como motivo para não utilização de ônibus por 22%; a tarifa de ônibus é muito cara tem 24% do total das menções; assim como a demora de ônibus para passar também com 24% do total das menções.” – diz nota da Rede Nossa São Paulo.

“Para 23% das pessoas entrevistadas, lotação é o principal problema a ser resolvido em relação aos ônibus municipais. Para 13% é o preço da tarifa; para 11% é a frequência dos ônibus; para 8% é limitar a ocupação de pessoas no transporte público; e para outros 8% é a limpeza e higienização dos ônibus com maior frequência.” – prossegue o comunicado.

A superlotação do transporte coletivo é a principal preocupação dos passageiros também no pós-pandemia, com 30% de todas as respostas.

Depois aparecem aumento da tarifa do transporte público (17%) e congestionamentos 13%.

VENTILAÇÃO NOS ÔNIBUS E TRENS FARIA COM QUE AS PESSOAS DEIXASSEM O TRANSPORTE INDIVIDUAL:

A pesquisa também questionou as pessoas que não usam o transporte público sobre o que as faria deixar o carro em casa. E novamente, o medo da Covid-19 tem relação com as respostas. A principal exigência deste público é melhoria na ventilação nos veículos:

– 36%: melhorar a ventilação dentro dos ônibus, trem e metrô para diminuir o risco de contágio do coronavírus;

– 33%: melhoria nas condições físicas do transporte público coletivo/ mais conforto;

– 29: higienização constante dos ônibus, trens e metrôs para prevenir a disseminação de coronavírus;

– 27%: menores intervalos entre ônibus, trens e metrôs para diminuir a lotação e o risco de contágio do coronavírus.

TEMPO DE ESPERA:

Pelas respostas à pesquisa, o tempo de espera pelo ônibus aumentou em relação ao ano passado.

De acordo com a Rede Nossa São Paulo, houve um recuo no tempo de espera de 5 a 15 minutos (34%) e aumento das menções entre 30 e 45 minutos (17%; em 2019, 10%). Apenas 2% afirmam esperar menos de 5 minutos; 36% mais de 15 a 30 minutos; 5% mais de 45 a 60 minutos; e 3% mais de 60 minutos.

Segundo nota da entidade, é a maior percepção de tempo de espera em toda a série histórica da pesquisa.

“ A percepção de aumento do tempo de espera pelos ônibus cresce e é a maior registrada na série histórica da pesquisa. 53% afirmam que o tempo de espera aumentou (12% a mais do que em 2019); 33% afirmam que está igual; e 8% que diminuiu. Quem mais cita que o tempo de espera pelos ônibus aumentou são pessoas da classe D/E (64%); renda familiar mensal de até 2 salários mínimos (60%); pretos(as) e pardos(as) (60%); de 16 a 24 anos (58%).”

 TEMPO DE DESLOCAMENTO CAI UM POUCO APENAS:

Mesmo com a pandemia, que provocou o isolamento social, não houve ganhos significativos nos tempos médios de deslocamentos para realização da atividade principal cai 10 minutos em relação a 2019 e atinge 1h37min. As pessoas que usam carro todos os dias ou quase todos os dias gastam em média 1h29 no deslocamento, 6 minutos a menos do que em 2019. Já as pessoas que usam transporte público todos os dias ou quase todos os dias gastam em média 1h56, 2 minutos a mais do que em 2019.

Se o tempo de deslocamento diminuiu entre os que usam carro aumentou para os passageiros de transporte público, mas em pequena proporção.

“Ao considerar todos os deslocamentos, o tempo médio gasto diminui 14 minutos em comparação ao ano passado. Entre as pessoas que usam carro todos ou dias ou quase todos os dias, esse tempo é de 2h06, 27 minutos a menos do que em 2019. Porém, entre as pessoas que usam transporte coletivo público todos os dias ou quase todos os dias o tempo médio é de 2h31, 4 minutos a mais do que em 2019.” – diz o texto de divulgação do levantamento.

FINANCIAMENTO EXTRA-TARIFÁRIO:

Algo que é defendido por especialistas em transportes, começa a ser assimilado pela população.

Segundo a pesquisa, a maioria dos entrevistados defende que parte do valor da passagem seja coberta por receitas extra-tarifárias.

“ A Maioria relativa acredita que os recursos para compor a tarifa da passagem do transporte público em São Paulo devem vir de impostos e outras fontes que a prefeitura arrecada junto a cidadãs e cidadãos e empresas, sem cobrança de passagem de usuárias e usuários (39%).

Já 30% defende que venha de impostos e do valor da passagem, assim a prefeitura deve continuar direcionando parte da arrecadação ao pagamento às empresas de transporte; enquanto 22% acreditam que os recursos devem vir somente do valor da passagem, apenas usuárias e usuários pagam pelo transporte.”

Foram realizadas 800 entrevistas com pessoas que moram na cidade de São Paulo, com 16 anos ou mais, entre os dias 5 e 21 de setembro de 2020, a partir de abordagens presenciais e online.