Passageiro de transporte coletivo perde até uma hora com mudança de fluxo na Avenida Celso Garcia

14/08/2018

Passageiro de transporte coletivo perde até uma hora com mudança de fluxo na Avenida Celso Garcia

CET diz que segurança do pedestre foi priorizada e fala que é “necessário tempo para que a população se acostume”

Fonte: Diário do Transporte

 

 

Andar de transporte coletivo ficou bem mais difícil pela Avenida Celso Garcia após as mudanças de fluxo de direção promovidas pela CET – Companhia de Engenharia de Tráfego no último dia 21 de julho, quando um trecho de 6,7 km entre o Largo da Concórdia e a Avenida Airton Pretini, deixou de ter o contrafluxo de ônibus, com a abertura da circulação dos demais veículos no sentido bairro-centro.

Passadas praticamente três semanas das alterações, o Diário do Transporte continuou recebendo por e-mail e por redes sociais, diversas reclamações de passageiros sobre atrasos de até uma hora nas linhas, atribuídos às mudanças que, na percepção dos usuários, ampliaram os congestionamentos, principalmente nos horários de pico.

 

 

Na última sexta-feira, entre 17h30 e 19h30, a reportagem esteve no local e constatou confusão entre carros, pedestres e ônibus. O sentido bairro era pior. Nas regiões das paradas, os ônibus formavam grandes filas.

Nas proximidades do Hospital Municipal do Tatuapé, a confusão constatada era maior ainda.

Nem mesmo a presença de agentes da CET impedia que carros ficassem parados sobre as faixas de pedestres, mesmo com o semáforo aberto para quem estava a pé.

Para atravessar nas imediações do hospital, era necessário apertar o passo. A reportagem contou cinco segundos com o semáforo verde para o pedestre.

 

 

Em outro ponto da Avenida, ônibus presos em meio aos carros demoraram quase dez minutos para percorrerem um trecho de 300 metros após entrarem na Avenida, saindo do Largo da Concórdia.

Isso está um absurdo. Tem dia que chego uma hora depois em casa. Ficar em pé no ônibus que não anda. Isso não dá” – disse Neuza Maria Santana, de 54, que costuma utilizar a linha 208V, que vai para a região do Terminal AE Carvalho.

De manhã é ruim também. Estou levantando mais cedo e saindo de casa mais cedo porque às ‘seis e pouco’ já começa a travar. Nos primeiros dias cheguei atrasado ao trabalho. Piorou” – disse o serralheiro Gustavo Teixeira Silva.

 

 

ABAIXO-ASSINADOS:   

Moradores das regiões servidas pela Avenida Celso Garcia, passageiros dos transportes coletivos, comerciantes, pedestres e até mesmo motoristas têm organizado abaixo-assinados contra as mudanças.

O técnico em Recursos Humanos, Roberto Vicente, faz parte da organização de um dos abaixo-assinados contra as mudanças de fluxo da Avenida Celso Garcia.

Morador da região da Vila Mara, Roberto disse que as mudanças na Avenida Celso Garcia, ao deixarem as viagens de ônibus mais demoradas, prejudicam os moradores das áreas mais periféricas, como Jardim das Oliveiras, Jardim Camargo Velho, Jardim do Nazaré e Vila Mara.

Segundo ele, são estas pessoas mais afetadas porque têm de sair mais cedo de casa e chegam mais tarde. Para o morador, os deslocamentos estão muito cansativos.

O tempo de viagem, segundo Roberto Vicente, aumentou em cerca de 50 minutos.  O morador conta ainda que por causa do novo esquema de trânsito, várias paradas, que recebiam linhas diferentes para evitar filas de coletivos, foram desativadas, impedindo a ultrapassagem entre os ônibus.

O ônibus não dá mais para fazer ultrapassagem. Antigamente tinha ponto 1,2 e 3. Hoje ‘tão’ centralizando tudo num mesmo ponto. Aí o ônibus tem que ficar preso na fila. De repente, você pega um fluxo de oito ônibus no mesmo sentido, fica um parado atrás do outro, tudo na mesma fila.” – disse Roberto que conta que, antes da mudança, saía entre 06h00 e 06h10 de casa para o trabalho. Atualmente, tem de sair às 5h15 para não perder o horário de entrada.

Já não era bom. Não tem corredor de ônibus, tinha uma faixa, mas que ia. Agora, piorou. O trem é muito lotado, não serve para todo mundo e tem de fazer um monte de baldeação” – enfatiza.

O presidente da Associação de Moradores do Belém, Luiz Carlos Modugno, que organiza outro abaixo-assinado, diz que além dos passageiros de ônibus, as mudanças prejudicaram o comércio local com a proibição de estacionamento em algumas vias e sobrecarregaram as ruas e avenidas próximas da Avenida Celso Garcia.

Há ruas que foram proibidos os acessos, algumas que viraram contramão ou tiveram restrição de estacionamento. Tudo isso está fazendo o trânsito nas vias dos quatro bairros que pegam a Celso Garcia, um caos. Por exemplo, no Brás, a Rua João Boemer para chegar na Celso Garcia já consegue travar a Avenida Paes de Barros no finalzinho, o viaduto Bresser trava. Aqui no Belém, está ‘travando’ a Rua Marcos de Arruda, que é um acesso para a Celso Garcia. A Rua [Engenheiro] Reynaldo Cajado, a Rua Henrique Sertório, Avenida Azevedo, a Rua Antônio de Barros, tudo ruim.” – disse.

ÔNIBUS MAIS LENTOS:

O que os passageiros dizem ter percebido, as empresas de ônibus que operam linhas que passam pela Avenida Celso Garcia afirmam ter medido.

Nós [empresas de ônibus] fomos pegos de surpresa e estamos colhendo o resultado de um projeto que não passou sequer para a gente dar uma opinião. De fato, a velocidade média de operação nos trechos onde aconteceram as mudanças, antes era de 13 km/h a 15 km/h e agora caiu para uma média de sete (7 km/h)”  – disse por telefone ao Diário do Transporte, o presidente do SPUrbanuss, sindicato das empresas de ônibus do subsistema estrutural (linhas que têm ônibus maiores), Francisco Christovam.

O representante das viações diz que pelo local, passam 27 linhas estruturais (contando com atendimentos) que transportam em média, por dia, 270 mil passageiros.

Já contando as linhas do subsistema local, as intermunicipais e as que servem apenas trechos da Avenida, são em torno de 50 linhas afetadas.

Segundo Francisco Christovam, os prejuízos não têm sido apenas na Avenida, havendo impactos até mesmo nas operações do Terminal Parque Dom Pedro porque, de acordo com o dirigente, os ônibus ficam represados na Celso Garcia e chegam todos juntos ao terminal.

Na medida em que a gente não consegue organizar a chegada dos ônibus porque eles ficam retidos no congestionamento, os passageiros vão se acumulando e quando chegam, chegam todos os ônibus ao mesmo tempo. As plataformas não têm espaço para acomodar todos os ônibus, cria um caos geral. Tudo isso decorrente do fato de o trânsito represar os ônibus e eles chegam de maneira totalmente desorganizada no terminal e aí fica muito difícil reestabelecer a operação, cumprindo horários de partidas, cumprindo inclusive o número de viagens. Como não conseguimos realizar a viagem no tempo de ciclo previsto, estamos tendo de rever todas as programações das linhas.” – complementou Christovam.

SMT DIZ QUE MUDANÇA É PARA SEGURANÇA DE PEDESTRES E QUE PODE FAZER MUDANÇAS PONTUAIS

Em nota ao Diário do Transporte, a Secretaria Municipal de Mobilidade e Transportes informou que as mudanças na Celso Garcia foram para aumentar a segurança dos pedestres. Segundo a pasta, o tempo de travessia nos semáforos aumentou em média 20%, com elevação também do total de vezes que os semáforos abrem para os pedestres de 28 para 30. A secretaria ainda informou que as botoeiras que os pedestres acionam para abrir o semáforo, subiram de 37 para 117 unidades.

A pasta ainda disse que ainda é necessário a população se acostumar com as mudanças e que não descarta, se necessário fazer alterações pontuais.

A secretaria também afirmou que nas últimas semanas a velocidade média dos ônibus voltou a subir, mas não informou qual é esta velocidade.

Veja a nota na íntegra:

A Secretaria Municipal de Mobilidade e Transportes esclarece que a mudança de circulação na Avenida Celso Garcia tem como objetivo aumentar a segurança da via para os pedestres.

 Para permitir uma travessia mais segura para os pedestres, a CET aumentou, em média 20%, o tempo dos cruzamentos semafóricos na Celso Garcia. A medida também ampliou o ciclo semafórico de 28 para 30, que é quantas vezes o semáforo fecha em uma hora para os carros para o pedestre atravessar.

 Os usuários ganharam novas opções de travessias com a implantação de oito novos cruzamentos semaforizados. O corredor Celso Garcia/Rangel Pestana possuía 37 botoeiras para pedestres e, hoje, conta com 117. O número de travessias com grupo focal específico para pedestres subiu de 50 para 89. Além dessas melhorias implantadas, eliminar o contrafluxo de ônibus é fundamental para reduzir acidentes e melhorar a percepção de pedestres na região.

 A implantação de mão dupla de circulação no corredor formado pelas avenidas Rangel Pestana e Celso Garcia, num trecho de 6,7 km, desde o dia 21/07, está sendo acompanhada diariamente pelas equipes de campo da CET e por técnicos da SPTrans. De acordo com a necessidade, ajustes pontuais estão sendo feitos para aprimorar a operação e manter as condições de trânsito e a segurança dos usuários da via.

 Como em qualquer mudança, é necessário tempo para que a população se acostume. Desde o início da mudança, a SPTrans já verificou aumento da velocidade média dos ônibus nas últimas semanas.