Temor de contágio afasta passageiro do ônibus

13/10/2020

Fonte: Folha de S.Paulo


Medo. Este é o sentimento de quem não pôde aderir ao home office e se viu obrigado a continuar usando o transporte público nos últimos meses. Pesquisa do Poder Data, em parceria com a Band, ouviu 2.500 pessoas em todo o país e apontou que 93% dos brasileiros ainda consideram arriscado o uso de coletivos e trens.

Em tempos de pandemia, problemas que já existiam, como a superlotação e a sujeira nos ônibus, assumiram outra dimensão, potencializando o temor de contaminação em um país que contabiliza mais de 5 milhões de infectados pelo novo coronavírus.

Neste grupo está a técnica de enfermagem Raquel Souza, 34. Atuando desde o início da pandemia na linha de frente de combate à Covid-19, ela se divide entre uma Unidade de Pronto Atendimento e uma UTI Covid, em Sobradinho, no Distrito Federal. Moradora de Valparaíso de Goiás (GO), a 40 km de onde trabalha, Raquel inicia seu trajeto às 5h, quando pega um ônibus rodoviário; às 6h10, precisa tomar outro coletivo.

"Os ônibus estavam menos cheios nos primeiros meses de pandemia, entre março e abril, mas, com a volta das atividades econômicas, a superlotação voltou a ser um problema", afirma. Ela conta que o intervalo entre veículos saltou de 30 para 50 minutos.

De acordo com a Semob (Secretaria de Transportes e Mobilidade do Distrito Federal), as empresas operadoras são obrigadas higienizar o interior dos veículos e a lavá-los quando retornam às garagens.

Essa, no entanto, não é a sensação de Raquel. "Parece que raramente os ônibus são higienizados. Me sinto mais segura no trabalho", afirma.

Em Recife, a situação não é diferente. Moradora da região metropolitana, Maria Clara Arruda, 22, percorre quase 15 km de Paulista até Igarassu, onde trabalha. "As pessoas estão usando cada vez menos a máscara e o álcool em gel para se proteger. Fico com muito medo quando alguém tosse ou espirra."

Estudos realizados em diversas cidades ao redor do mundo, entre eles um conduzido pela NTU (Associação Nacional das Empresas de Transportes Urbanos) em 171 municípios brasileiros, não encontraram evidências conclusivas sobre um maior percentual de contágio no transporte coletivo, mas aponta que não se deve descartar os ônibus como ambientes de risco.

De acordo com Demetrius Montenegro, infectologista do Hospital Oswaldo Cruz, em Pernambuco, a superlotação e a dificuldade de distanciamento social continuam sendo desafios para quem precisa se deslocar de transporte público diariamente. "Além de usar máscara o tempo todo, evitar falar e ingerir alimentos dentro do coletivo são medidas que ajudam na prevenção."

Do ponto de vista dos responsáveis pelo sistema, é fundamental melhorar a circulação de ar, higienizar o interior dos veículos, escalonar os horários para reduzir a demanda e monitorar casos de contágio entre os funcionários.

Empresas de transporte por aplicativo adotaram medidas como uso obrigatório de máscara por motoristas e usuários e sanitização gratuita dos carros. Pesquisa da 99 mostra que, em julho, houve um aumento de 55% de viagens nas periferias de São Paulo, Rio de Janeiro e Salvador.

Veja como se proteger no transporte público

• Use máscara durante todo o trajeto. Ela funciona como barreira de proteção que impede a projeção de partículas de saliva, onde estão os vírus

• Caso toque na máscara por descuido, higienize as mãos com álcool em gel imediatamente. O contato com superfícies do transporte público aumenta as chances de contágio

• Tente não falar enquanto estiver no ônibus ou no metrô. Isso reduz a quantidade de vírus que podem estar sendo expelidos

• Evite o consumo de bebidas e alimentos dentro dos transportes

• Nos ônibus, mantenha sempre as janelas abertas para maior circulação do ar

• Se for pegar mais de um transporte, utilize o álcool em gel no intervalo entre um e outro