Aumento da velocidade dos ônibus de SP durante a pandemia atingiu 15% a menos de poluentes, o mesmo resultado de 2 mil ônibus elétricos na frota

22/09/2020

Fonte: Diário do Transporte


Dados fazem parte de nova ferramenta do IEMA, lançada nessa terça-feira, 22 de setembro, Dia Mundial Sem Carro

ALEXANDRE PELEGI

Imagine a cidade de São Paulo com 2 mil ônibus elétricos na frota. Atualmente, além dos 200 trólebus, há apenas 16 outros elétricos à bateria circulando. Seria o mesmo que multiplicar por dez esse número.

Dentro de uma frota de 14 mil veículos, esses elétricos possibilitariam uma redução global de 15% na emissão de poluentes de todo o sistema.

Pois foi o que aconteceu em São Paulo durante o período crítico da pandemia, de abril a julho de 2020.

Nesse período, a velocidade média do transporte por ônibus aumentou, devido a mais espaço nas vias e à agilidade no embarque, concorrente ainda com a diminuição de passageiros.

Na prática a cidade pode conferir algo que se fala há muito tempo, e que é óbvio do ponto de vista técnico: com maior velocidade, além de viagens mais rápidas, os ônibus poluem menos.

Os dados integram a plataforma “Monitor de Ônibus SP”, lançada pelo IEMA – Instituto de Energia e Meio Ambiente nessa terça-feira, 22 de setembro de 2020, Dia Mundial Sem Carro.

Diário do Transporte conversou com o coordenador de Projetos do IEMA, David Tsai, um dos idealizadores do Monitor.

David nos mostrou a quantidade de dados que o sistema de transporte público coletivo por ônibus da capital gera.

Um dos objetivos do Monitor é acompanhar e analisar essas informações, permitindo à população conhecer fatos importantes relacionados não somente ao aspecto ambiental, mas também à disponibilidade de frota e de lugares no transporte de sua cidade.

A partir do mês de março, o transporte público pôde circular de modo mais eficiente, e como resultado reduziu 52% das emissões de dióxido de carbono (CO2), um dos causadores do aquecimento global. A emissão de material particulado (MP), formado por fuligem e outras partículas sólidas ou líquidas em suspensão na atmosfera que podem causar problemas cardiorrespiratórios, foi reduzida em 51%. Os óxidos de nitrogênio (NOx), poluentes responsáveis por problemas pulmonares, tiveram suas emissões reduzidas em 56%.

Esses dados foram calculados comparando-se um dia útil médio de abril a um dia útil média de fevereiro.

David conta que a ferramenta “Monitor de Ônibus SP” foi criado com o intuito de auxiliar o acompanhamento das emissões de gases de efeito estufa (GEE) e de poluentes provenientes dos ônibus da cidade de São Paulo.

Ele ajuda a verificar se as operadoras e o poder público vão conseguir reduzir pela metade as emissões de CO2 do transporte por ônibus paulistano; em 90%, as de MP; e em 80%, as de NOx até 2028, tendo como base o ano de 2016.

Como tem o Diário do Transporte tem noticiado, esses compromissos estão expressos na Lei Municipal 16.802 de 2018, que aborda a redução de emissões do transporte público na cidade.

O Monitor de Ônibus SP é uma ferramenta que processa os dados abertos da prefeitura e disponibiliza análises ágeis e acessíveis para a sociedade acompanhar o nível de oferta de transporte, a fluidez da operação e as emissões. Com isso, almejamos contribuir para termos em São Paulo um transporte público inclusivo, de qualidade e não poluente“, diz David Tsai.

Conheça a ferramenta: energiaeambiente.org.br/onibus-sp

AUMENTO DA VELOCIDADE

Na primeira semana após o início oficial da quarentena em São Paulo, dia 24 de março, a velocidade média dos ônibus no horário de pico, entre sete e dez da manhã, chegou a 22 km/h. Esse número chegou a ser 15 km/h, valor 32% menor, no início do ano de 2020, ainda no período pré-pandemia.

Recentemente, quando as pessoas começaram a voltar às ruas, mas sem que os níveis de circulação anteriores tenham se restabelecido, observa-se uma velocidade média de 19 km/h.

A uma velocidade maior os ônibus tornam-se mais eficientes, geram menos emissão por quilômetro trafegado e realizam viagens mais rápidas.

A velocidade melhorou por dois motivos: devido a ruas mais abertas (menos carros trafegando), e pontos de parada com menor quantidade de passageiros, o que afeta também a velocidade média das viagens.

Parece claro que investir na qualidade da mobilidade urbana é uma das formas mais rápidas e inteligentes de reduzir a poluição do ar. E para isso bastam decisões operacionais, como a implantação de faixas exclusivas, e a tomada de decisões que privilegiem de fato o transporte coletivo.

REDUÇÃO DA FROTA E ESTABILIZAÇÃO DE PASSAGEIROS

O Monitor de Ônibus SP mostrou que a partir do dia primeiro de abril houve uma redução brusca da frota de ônibus da cidade de São Paulo. A frota de ônibus em circulação nos dia úteis atualmente é de em média 12 mil veículos, número que chegou a 13,8 mil no pré-pandemia e a apenas 6,8 mil em seu início.

A partir de abril até junho deste ano, período crítico da pandemia, 237 milhões de passageiros utilizaram o transporte público. No mesmo período do ano passado, esse número foi de 674 milhões, valor quase três vezes maior que o atual.

Para o IEMA, mesmo durante o auge do isolamento social, uma quantidade importante de passageiros continuou usando o sistema de ônibus. “Essa informação ressalta a importância do transporte público, alçado à categoria de direito social em 2015, conforme prevê o artigo 6º da Constituição Federal. Muitas pessoas não têm acesso a outros meios de locomoção, a não ser o ônibus. Assim, as cidades que proibiram a circulação de transporte público durante um período do isolamento social atingiram diretamente essa população que precisa desse meio de transporte, ferindo o seu direito à mobilidade”, conclui o Instituto em comunicado.

MONITOR

A ferramenta (acima) é intuitiva e mostra as condições do sistema por ônibus da capital em dois momentos: 2016, quando começou a valer a Lei de Mudança Climática, e atualmente.

No caso da Frota, pode perceber que nesses quase quatro anos houve um crescimento significativo de veículos Euro 5 (azul mais claro), que passaram de 36% da frota para 78%, o que indica já uma melhora nos níveis de emissão.

Já o índice de Fluidez, que na prática mede a velocidade dos ônibus, melhorou significativamente tomando os meses de Agosto de 2016 e 2020.

A Fluidez é medida a partir da quilometragem [km] média percorrida, em diferentes faixas de velocidade, por todos os ônibus do sistema no pico da manhã (entre 7h e 10h) durante um dia útil do mês.

Como se pode observar, houve uma melhora sensível nesse item. Se em 2016 quase metade das viagens (46%)  consegui alcançar velocidade acima de 20 km/h, este percentual subiu para 66% em 2020, fato que pode ser atribuído aos efeitos da pandemia.

No índice Passageiros, houve uma queda de 2,9 milhões de passageiros transportados em 2016 para 994 mil transportados em agosto de 2020.

Já no quesito Oferta,  também devido à pandemia, a redução foi de 79,8 milhões de capacidade para 32,3 milhões. A Oferta é a quantidade anual de lugares oferecidos nos ônibus ao longo da quilometragem percorrida nas linhas do sistema [capacidade.km].

Uma observação que o Monitor permite observar, é que durante a pandemia a oferta de lugares voltou mais rápido que a demanda. O que demonstra que, apesar das críticas, as ações da SPTrans foram moduladas em função das necessidades medidas.

A conclusão, dentre muitas a que se pode enxergar trabalhando com os dados do Monitor, é que não basta melhorar a oferta de transportes sem, ao mesmo tempo, não se garantir a melhoria na velocidade do sistema, além de garantir que a tecnologia utilizada possibilite uma real diminuição das emissões de poluentes.

O mais importante: tomar decisões a partir de dados parece ser uma das melhores contribuições do monitor. Resta agora à população e aos técnicos se aproriarem dessa ferramenta e propor mudanças reais e exequíveis  para a melhoria do transporte e do ar da capital paulista. Afinal, em ano eleitoral, temos de evitar propostas irreais. E para isso, nada melhor que espalhar o conhecimento.

Como mostrou recente pesquisa Ibope, encomendada pela Associação Comercial de São Paulo, o transporte coletivo foi citado pelos entrevistados como segundo colocado no ranking de prioridades, atrás apenas da Saúde.