Elisabete França é a nova secretária de transportes da cidade de São Paulo no lugar de Caram

22/06/2020

Fonte: Diário do Transporte

É o quarto nome de mobilidade e transportes até agora na gestão Bruno Covas. Principal desafio imediato é fazer com que o transporte por ônibus ofereça segurança sanitária aos passageiros em meio à retomada de atividades mesmo com a pandemia da Covid-19 avançando na capital paulista

ADAMO BAZANI

Elisabete França é a nova secretária municipal de Mobilidade e Transportes da capital paulista no lugar de Edson Caram, que estava no cargo desde dezembro de 2018 e pediu demissão em 12 de junho de 2020, na mesma semana que o prefeito Bruno Covas ameaçou dispensá-lo dizendo, em entrevista coletiva no dia 08 de junho de 2020, que iria trocar de secretário caso os ônibus na cidade de São Paulo anda trafegassem com pessoas em pé.

A circulação dos ônibus municipais somente com passageiros sentados foi uma recomendação da SMT – Secretaria Municipal de Mobilidade e Transportes para evitar lotação e reduzir o risco de contágio pela Covid-19. Porém, nesta sexta-feira, 19 de junho de 2020, a SPTrans – São Paulo Transporte, gerenciadora dos coletivos, confirmou que revogou a orientação.

Já Edsom Caram foi nomeado oficialmente agora para o cargo de Secretário Executivo, do Gabinete do Prefeito.

As nomeações foram publicadas no Diário Oficial deste sábado, 20 de junho de 2020, e são trazidas em primeira mão oficialmente pelo Diário do Transporte 

Elisabete França era até então Diretora de Planejamento e Projetos da CET (Companha de Tráfego de São Paulo). É arquiteta urbanista, com mais de trinta anos de experiências em projetos urbanos, ambientais, habitacionais e de mobilidade urbana.

Entre 2015 e julho de 2018 foi Diretora de Planejamento e Projetos da Companhia de Desenvolvimento Habitacional e Urbano do Estado de São Paulo. Professora no curso de Arquitetura e Urbanismo da Fundação Armando Álvares Penteado (FAAP) e no curso de especialização em Planejamento e Gestão de Cidades, do núcleo de estudos USP Cidades.

Entre 2010 e 2012 foi Secretaria de Habitação e entre 2005 e 2012 foi Superintendente de Habitação da Secretaria de Habitação da Cidade de São Paulo, onde coordenou a elaboração do Plano Municipal de Habitação e vários programas habitacionais, com destaque para Urbanização de Favelas, Recuperação Urbana e Ambiental nos Mananciais e Recuperação de Cortiços na região central da cidade.

Atualmente, estava à frente da elaboração dos novos planos cicloviários e de desenho urbano.

É o quarto nome na secretaria de Mobilidade e Transportes até agora na gestão Bruno Covas.

Sérgio Avelleda (hoje diretor de Mobilidade da instituição internacional WRI) foi secretário de mobilidade e transportes ainda quando João Doria era prefeito e, em 09 de abril de 2018, já na gestão Bruno Covas, foi substituído pelo então presidente da CET – Companhia de Engenharia de Tráfego, João Octaviano Machado Neto. Em 03 de dezembro, João Octaviano foi para a Secretaria Estadual de Logística e Transportes, na gestão do Governador João Doria, e no seu lugar, entrou o até então diretor do Departamento de Operações do Sistema Viário do Município de São Paulo (DSV), Edson Caram.

Administrar a mobilidade na maior cidade da América Latina em meio à pandemia do novo coronavírus e à reabertura gradual das atividades econômicas, mesmo com os casos de infectados e de mortos crescendo, vai ser o primeiro grande desafio imediato da nova secretária.

E as medidas são difíceis de tomar porque muitas vezes nem sempre as decisões devem partir do setor de transportes, mas influenciam na lotação dos ônibus e nos índices de congestionamento, como, por exemplo, a fiscalização dos estabelecimentos que podem ou não abrir e o escalonamento dos horários de entrada e saída dos trabalhadores de diversos setores para não sobrecarregar transporte público no horário de pico.

Além da recomendação de apenas passageiros sentados, Caram esteve no comando de outras medidas consideradas polêmicas na mobilidade frente à pandemia, como o bloqueio parcial de algumas vias de grande movimento que teria atrapalhado a circulação de ônibus, ambulâncias e profissionais de saúde e de segurança, mesmo com a manutenção das faixas exclusivas, e o rodízio de veículos conforme placas finais pares ou ímpares, que durou de 11 de maio a 18 de maio e gerou confusão entre os motoristas. De acordo com dados do SIMPI, que é o sistema de monitoramento por celulares do Governo do Estado com as operadoras de telefonia, ambas medidas produziram pouco efeito para aumentar o índice de isolamento na cidade, a principal recomendação de especialistas da área da Saúde para diminuir a velocidade do avanço da Covid-19.

A gestão de Caram também foi marcada por “desalinhamentos” com o Secretário dos Transportes Metropolitanos, Alexandre Baldy, da gestão do governador João Doria, com declarações públicas conflitantes.

Baldy disse que não foi avisado e não concordava com o rodízio par ou ímpar. Em outra ocasião, numa rede social, mostrou descontentamento com o fim de 12 linhas da EMTU  – Empresa Metropolitana de Transportes Urbanos a partir de 26 de maio de 2020 por determinação da gestão Edson Caram frente à secretaria municipal.

“Primeiro quero esclarecer que a Constituição Federal prevê que as Prefeituras no Brasil tem a prerrogativa das políticas públicas do transporte público. Buscamos diálogo nestas medidas, demonstramos a importância de cada operação aos gestores municipais, mas não fomos atendidos.” – postou Baldy em uma rede social.

Na ocasião, a secretaria municipal de transportes informou que havia sobreposição de linhas metropolitanas com municipais, que houve reuniões e estudos com a EMTU e que os passageiros não iriam ficar sem opção de transporte.

Também causou indisposição entre Baldy e Caram o impedimento de operação e a apreensão de um sistema de ônibus de luxo por aplicativos, entre São Bernardo do Campo e a região da Berrini, na zona Sul de São Paulo, operado pela empresa Metra e que tinha autorização de funcionar pela EMTU. A apreensão ocorreu em 01º de outubro de 2019 por determinação da secretaria municipal de transportes mesmo com pareceres favoráveis de órgãos da cidade como SPTrans (São Paulo Transporte), DSV (Departamento de Operações do Sistema Viário do Município de São Paulo), CET (Companhia de Engenharia de Tráfego) e PGM (Procuradoria Geral do Município).

Na ocasião, Caram disse que necessitaria estudar os impactos dos 12 ônibus de aplicativo (18 com frota reserva) no corredor municipal da região da Berrini.

A cidade de São Paulo tem a maior frota de ônibus municipais da América Latina, 14.034 coletivos, entre operacionais e reserva, que, por dia, antes da pandemia, registram 9,5 milhões de passagens  (aproximadamente quatro milhões de pessoas). Também é uma das maiores frotas de carros de aplicativo da América Latina (estimativa de mais de 150 mil) e de alvarás de táxis (em torno de 32 mil).

São mais de 17 mil de vias com pouca prioridade ao transporte coletivo: em torno de 140 km de corredores de ônibus, dos quais apenas 8 km são BRT – Bus Rapid Transit (que de verdade têm exclusividade ao transporte coletivo, com maior velocidade) e em torno de 500 km de faixas para ônibus, que não são exclusivas, já que táxis podem trafegar nelas.