Prefeitura de SP reafirma meta de 2,6 mil ônibus elétricos na COP 28, mas previsão para 2023 não se concretizou por falta de infraestrutura

06/12/2023

Fonte: Diário do Transporte

SPTrans e ENEL confirmaram que obras de adequações necessárias sequer foram iniciadas; Mesmo não estipulando a tecnologia dos coletivos, os contratos das viações e a nova versão da Lei de Mudanças Climáticas, que preveem carbono zero até 2038 pelos ônibus, induzem à compra quase que obrigatória de veículos elétricos

Durante apresentação na COP 28, Conferência do Clima, que ocorre em Dubai, a prefeitura de São Paulo reafirmou a meta de 2,6 mil ônibus elétricos circulando na cidade até o fim de 2024 como uma das ações de descarbonização.

A meta foi mantida mesmo não havendo avanços significativos nesta área ainda, inclusive com a última previsão do prefeito Ricardo Nunes, de 600 ônibus deste tipo até o fim deste ano de 2023, ter caído por terra. São apenas 69 ônibus elétricos com baterias e 201 trólebus. O sistema de trólebus está implantado desde 1949 e Nunes já sinalizou a intenção de descontinuar a rede.

Na verdade, o número de 600 é até uma redução em relação aos anúncios anteriores.

A previsão para este ano passou de 1,6 mil ônibus elétricos para 800, depois para 650, até chegar a 600, mas se concretizou apenas em 69 (mais abaixo você acompanha o cronograma de promessas e previsões).

Ainda na apresentação, a prefeitura reconhece que neste ano de 2023 foram entregues apenas 50 ônibus elétricos da nova geração, que ocorreu em 18 de setembro. Os outros 19 já circulam desde 2019.

FALTA AINDA INFRAESTRUTURA

E o principal motivo do não cumprimento das previsões é a falta de infraestrutura para que o carregamento simultâneo de vários ônibus elétricos não cause impactos nas redes de distribuição, inclusive podendo haver riscos de apagão em alguns bairros.

Estudos da ANTP (Associação Nacional de Transportes Públicos) mostram que em redes como da cidade de São Paulo, de baixa e média tensão, se 50 ônibus elétricos carregarem as baterias ao mesmo tempo, pode faltar luz na casa das pessoas.

A SPTrans (São Paulo Transporte), que gerencia o sistema de ônibus da cidade, e a ENEL, responsável pela distribuição de energia, confirmaram ao Diário do Transporte que as obras de adequações necessárias nas garagens e rede de bairros sequer foram iniciadas.

A SPTrans diz que estas obras e projetos fazem parte de um contrato entre as empresas de ônibus e a ENEL-X, subsidiária da ENEL. Já a ENEL diz que as adequações necessitam de solicitações dos clientes, no caso as viações.

Enquanto o impasse persiste, a própria apresentação da prefeitura na COP-28 mostra a necessidade de redução de poluição pelos veículos.

Segundo o documento, 61% das emissões de gases de efeito estufa da cidade são provenientes dos automóveis.

PROIBIÇÃO DO DIESEL E OUTRAS ALTERNATIVAS EXISTENTES

Especialistas, no entanto, afirmam que apesar de a eletrificação da frota de ônibus ser uma medida positiva, não é o único caminho para deixar o sistema de transportes coletivos sobre pneus menos poluente.

Desde 17 outubro de 2022, as empresas de ônibus não podem mais comprar veículos movidos a diesel na cidade, com exceção de micro-ônibus e micrões (midi).

Mesmo não estipulando a tecnologia dos coletivos, os contratos das viações e a nova versão da Lei de Mudanças Climáticas, que preveem carbono zero até 2038 pelos ônibus, induzem à compra quase que obrigatória de veículos elétricos.

Na prática, estes instrumentos legais na cidade deixam inviáveis outras alternativas que poderiam ser interessantes para a cidade, como:

– Ônibus a gás natural (cujos modelos evoluíram desde as experiências traumáticas dos anos 1990);

– HVO (uma espécie de diesel hidrogenado que pode ser usado em qualquer motor em operação sem a necessidade de alterações mecânicas);

– Etanol (que poderia ter evoluções para ônibus);

– Até mesmo, neste momento, considerar os novos modelos a diesel com o padrão Euro 6, uma norma obrigatória no Brasil desde janeiro de 2023 para modelos zero km a diesel e que permite redução de 75% das emissões médias de poluentes em relação aos modelos da norma anterior Euro 5.

Com exceção do Euro 6, que é a diesel, não existe nenhuma proibição de compra de outros modelos, além dos elétricos, mas como o tempo de vida dos ônibus é de 10 a 15 anos, o preço destes veículos é muito alto e existe a obrigatoriedade de zerar as emissões em 2038, na prática, a aquisição de outras alternativas, como gás natural, foi tornada inviável. Assim, as companhias de transportes são induzidas a comprar elétricos.

TRÓLEBUS:

Os especialistas ainda defendem a modernização e ampliação da rede de trólebus: em vez de descontinuar o sistema de ônibus elétricos conectados à rede área, como quer Ricardo Nunes, especialistas defendem a ampliação dos trólebus, em especial em corredores exclusivos. O modelo do ABC Paulista, por exemplo, é bem avaliado. Também houve evoluções no tipo de rede e nos veículos. Há um modelo chamado E-Trol que permite com que o mesmo ônibus circule conectado à rede de fio e também foram dela só com baterias.

Veja a ordem das previsões de ônibus elétricos para a cidade de São Paulo em 2023

– Em 2021, a estimativa da prefeitura era de que 1,6 mil ônibus elétricos seriam colocados na cidade até o fim de 2023 e mais mil até o término de 2024, totalizando 2,6 mil unidades.

– Em 24 de agosto de 2023, Nunes havia falado num evento de revendedoras de veículos em São Paulo, que neste ano seriam 800 ônibus elétricos circulando.

– Em 24 de agosto de 2023, Nunes afirmou em entrevista coletiva numa agenda pública disse que previa a implantação de “pelo menos uns 650 ônibus” elétricos em operação na cidade de São Paulo até o fim do ano.

– Em 18 de setembro de 2023, em frente ao estádio do Pacaembu, durante apresentação dos primeiros 50 ônibus elétricos da nova geração, o prefeito Ricardo Nunes havia reafirmado que a cidade teria entre 600 e 650 ônibus à eletricidade movidos por baterias até o fim de dezembro de 2023.
 

ADAMO BAZANI