Previsão de 600 ônibus elétricos em São Paulo para este ano cai por terra e obras para adequações das garagens sequer foram iniciadas

30/11/2023

Fonte: Diário do Transporte

SPTrans diz que cobra concessionárias e Enel-X para implantar infraestrutura, mas nada saiu do papel

Faltando um mês para terminar o ano de 2023, a cidade de São Paulo não terá até o fim de dezembro, os 600 ônibus elétricos à bateria como havia previsto o prefeito Ricardo Nunes.

São apenas 69 veículos deste tipo em operação nas linhas municipais, sendo que 50 da nova geração e 19 que operam desde 2019.

Na apresentação dos 50 coletivos mais atuais, em 18 de setembro de 2023, o prefeito Ricardo Nunes havia reafirmado que a cidade teria entre 600 e 650 ônibus à eletricidade movidos por baterias. Na verdade, o número é até uma redução em relação aos anúncios anteriores.

A previsão para este ano passou de 1,6 mil ônibus elétricos para 800, depois para 650.

Em seguida foi reduzida para 600 e, na prática, a quantidade deste tipo de coletivo rodando até o fim de dezembro não vai superar muito os atuais 69 em circulação.

Muito mais que um jogo de números, as mudanças nas previsões expõem que a lição de casa, o básico para a eletrificação da frota de ônibus elétricos ainda não foi feito: a infraestrutura.

Não basta comprar ônibus elétricos. Tem de mudar as garagens, mudar as redes de distribuição para não faltar energia na casa das pessoas e mudar até protocolos de segurança em caso de estes ônibus serem incendiados, algo que nem os Bombeiros de São Paulo ainda têm definido.

Nada disso foi feito.

Nesta quarta-feira, 29 de novembro de 2023, o Diário do Transporte questionou a SPTrans (São Paulo Transporte), que gerencia o sistema de ônibus da cidade, sobre se haveria a inclusão de mais deste tipo de coletivos nas linhas municipais.

A gerenciadora informou que para a operação desses veículos é necessária a instalação de infraestrutura para carregamento nas garagens, o que é de responsabilidade da Enel X, empresa que firmou termo de intenção diretamente com as concessionárias do sistema de transportes para implantação do projeto de infraestrutura nas suas garagens.

De acordo com a gerenciadora, a subsidiária do Grupo Enel apresentou o projeto diretamente às viações, mas ainda não deu início aos projetos e às respectivas obras.

A SPTrans disse que segue com as cobranças aos responsáveis e mantém a meta de 20% da frota de ônibus da cidade eletrificada até o fim de 2024, o que daria entre 2,4 mil e 2,6 mil coletivos.

A SPTrans informa que a meta de substituição de 20% da frota de ônibus da cidade por modelos movidos a energia limpa está mantida para 2024. Os ônibus para o cumprimento da meta estão sendo fabricados, de acordo com a capacidade produtiva dos diversos fornecedores envolvidos na construção de um ônibus elétrico, que envolve chassis, carroceria, baterias e outros elementos.

Para início de operação desses veículos é necessária a instalação de infraestrutura para carregamento nas garagens, o que é de responsabilidade da Enel X, que firmou termo de intenção diretamente com as concessionárias do sistema de transportes para implantação do projeto de infraestrutura nas suas garagens. A subsidiária do Grupo Enel apresentou o projeto diretamente às concessionárias, mas ainda não deu início aos projetos e respectivas obras.

A SPTrans segue cobrando de todos os envolvidos a conclusão da implantação da infraestrutura necessária para a eletrificação da frota, que trará importantes benefícios à população, contribuindo para a redução de poluentes e de gases causadores do efeito estufa.

A cidade conta com 69 ônibus elétricos movidos a bateria em operação.

O Diário do Transporte mostrou que a ENEL admitiu que é preciso fazer intervenções no sistema distribuição e obras de aumento de carga com novas subestações dentro de garagens.

A distribuidora, entretanto, disse que está preparada para atender as solicitações de aumento de carga dos operadores de ônibus.

Um estudo realizado pela ANTP (Associação Nacional de Transportes Públicos) mostra que existem riscos de problemas de fornecimento de energia nos bairros, com até mesmo possibilidade de faltar luz na casa das pessoas, caso vários ônibus elétricos estejam carregando as baterias ao mesmo tempo.

Para evitar isso, é necessário fazer mudanças na estrutura de fornecimento de eletricidade.

Intitulado “Custos dos Serviços de Transporte Público por Ônibus Elétrico – Metodologia de Cálculo e Parâmetros”, o trabalho foi conduzido pelo professor da FGV (Fundação Getúlio Vargas), Fernando Fleury Filho, e pelo Engenheiro Civil/Escola Politécnica/USP, Mestre em Transportes/UNICAMP e Consultor de Transporte, Rodrigo Eduardo Dias Verroni.

Até mesmo fabricantes, que vendem estes ônibus por um valor três vezes maior que um a diesel comum, demonstram preocupação.

Durante o evento Eletric Day na fábrica da Mercedes-Benz, em São Bernardo do Campo, em 13 de novembro de 2023, o diretor de vendas da empresa, Walter Barbosa, disse que simulações feitas para a realidade de São Paulo mostram que com a atual rede de baixa e média tensão, que é a maioria na capital paulista, bairros com garagens com 50 ônibus do tipo padron ou 30 articulados, podem ficar sem energia caso estes veículos sejam carregados ao mesmo tempo.

INCÊNDIO:

A questão da segurança quanto a incêndios envolvendo ônibus elétricos também preocupa.

O Diário do Transporte conversou com o porta-voz do Corpo de Bombeiros da Polícia Militar do Estado São Paulo, Capitão André Elias, que disse que, assim como está ocorrendo em todo o mundo, a corporação paulista ainda trabalha na elaboração de protocolos e manuais para padronização do atendimento a incêndio em ônibus elétricos e demais veículos deste tipo.

Quando uma bateria desses ônibus elétricos queima, são lançadas no ar substâncias muito tóxicas à saúde humana, mais até quando um ônibus a diesel entra em chamas.

Além disso, André Elias esclareceu ao Diário do Transporte que quando um veículo elétrico pega fogo, há a projeção de partículas incandescentes e causa um fenômeno chamado de “jet-fire” ou jato de fogo, que pode atingir qualquer pessoa próxima do veículo.

Assim, a ordem é se afastar o máximo possível do veículo em chamas e ligar para os Bombeiros.

O alto calor provado pela queima de algumas substâncias que compõem as baterias é outro ponto de atenção. Segundo o capitão, as temperaturas podem extrapolar os 200 º C ao redor do ônibus. Isso gera queimadura por aproximação. Nem precisa ser atingido pelas chamas.

Veja a ordem das previsões de ônibus elétricos para a cidade de São Paulo em 2023

– Em 2021, a estimativa da prefeitura era de que 1,6 mil ônibus elétricos seriam colocados na cidade até o fim de 2023 e mais mil até o término de 2024, totalizando 2,6 mil unidades.

– Em 24 de agosto de 2023, Nunes havia falado num evento de revendedoras de veículos em São Paulo, que neste ano seriam 800 ônibus elétricos circulando.

– Em 24 de agosto de 2023, Nunes afirmou em entrevista coletiva numa agenda pública disse que previa a implantação de “pelo menos uns 650 ônibus” elétricos em operação na cidade de São Paulo até o fim do ano

– Em 18 de setembro de 2023, em frente ao estádio do Pacaembu, durante apresentação dos primeiros 50 ônibus elétricos da nova geração, o prefeito Ricardo Nunes havia reafirmado que a cidade teria entre 600 e 650 ônibus à eletricidade movidos por baterias até o fim de dezembro de 2023.

ADAMO BAZANI

Colaborou Arthur Ferrari