Seminário Nacional da NTU: um grande sucesso

24/08/2022

Fonte: Diário do Transporte 

Depois de quase três anos sem reunir fabricantes, operadores, representantes de órgãos de gestão, formadores de opinião, consultores e especialistas e interessados nos temas relativos ao transporte coletivo urbano de passageiros, a Associação Nacional das Empresas de Transportes Urbanos – NTU realizou, na segunda semana de agosto, o Seminário Nacional NTU, em paralelo com a Lat.BusTranspúblico, feira latino-americana de transporte, considerado o maior encontro sobre mobilidade urbana da América Latina. O evento reuniu os principais agentes da cadeia produtiva do transporte urbano, rodoviário e de fretamento do Brasil e contou com mais de 11,6 mil inscrições, com quase 9,5 mil visitantes às 150 empresas expositoras e com cerca de 5,6 mil acessos e visualizações pelo YouTube.

Já na abertura do evento, que contou com a participação remota do Senador Rodrigo Pacheco e de Daniel Ferreira, Presidente do Senado Federal e Ministro do Desenvolvimento Regional, respectivamente, e com a presença de várias autoridades, o Presidente do Conselho Diretor da NTU, João Antonio Setti Braga, disse: <“Apesar da melhoria no cenário econômico, ainda temos grandes desafios a enfrentar, como a recuperação da demanda perdida e a melhoria da situação financeira do setor, que amargou prejuízos que chegaram a quase R$ 30 bilhões nos últimos anos, com muitas empresas operadoras interrompendo parcial ou totalmente as suas atividades”.

No primeiro painel, intitulado“O novo caminho do transporte coletivo urbano”, já foi possível antever que o Seminário seria uma oportunidade extraordinária para a discussão da atual situação dos transportes coletivos de passageiros e para a apresentação de tendências, inovações e avanços que ocorreram durante o período da pandemia, quando o distanciamento social, queda drástica da demanda e desequilíbrio econômico-financeiro dos contratos acabaram impondo uma nova realidade para o setor.

Ao final do painel, os participantes foram unânimes na constatação de que o transporte por ônibus atingiu, provavelmente, a pior situação da sua história e que a sua retomada passa por uma nova compreensão da sua importância como serviço público e da necessidade imprescindível de um marco regulatório, para regrar e regulamentar a relação do poder público com a iniciativa privada, criar novas fontes de financiamento, para investimento e custeio da operação, e promover a melhoria da qualidade dos serviços a serem prestados à população. Há, sim, uma nítida esperança de se ver, a médio prazo, o transporte coletivo de passageiros sendo tratado como um serviço público apreciado por toda a sociedade.

O segundo painel, sob o título: “O financiamento do transporte público coletivo para além da tarifa” discutiu a necessidade imperiosa da separação da tarifa técnica ou de remuneração da tarifa pública ou de utilização; a primeira, diz respeito ao valor necessário para remunerar a prestação dos serviços e a segunda representa o valor que é pago pelo passageiro, para usufruir dos serviços prestados. Quando o valor da tarifa pública for inferior ao valor da tarifa técnica, o poder concedente deve, obrigatoriamente, cobrir a diferença com recursos próprios, provenientes do orçamento público ou de fontes alternativas.

Além disso, foram apresentadas as conclusões de um estudo técnico que a NTU contratou com especialistas, para discutir novas fontes de financiamento para o setor, particularmente, no que se refere à obtenção de recursos para bancar os subsídios, oriundos do orçamento público ou utilizando as chamadas fontes extra tarifárias. A concessão de subsídio, para tornar o transporte coletivo mais acessível à população de baixa renda, já é uma realidade em cerca de 250 cidades brasileiras.

Nos painéis seguintes, discutiram-se temas de alta relevância para o futuro dos transportes coletivos de passageiros. Sob o título “Como ampliar a participação de jovens empresários e executivos no setor”, empresários e especialistas puderam debater processos sucessórios familiares em empresas tradicionais, a necessidade urgente da adoção de modernas técnicas de gestão empresarial e o possível fortalecimento das empresas com a chegada de uma nova geração de sucessores.

Na sequência, os debates versaram sobre o futuro da mobilidade urbana e sobre "A inovação como ferramenta para recuperar a demanda, fidelizar o cliente e melhorar a qualidade do serviço”, com ênfase na necessidade de inovar para garantir serviço de qualidade e mudança da imagem das operadoras, perante a sociedade. Mesmo lidando com o descumprimento dos contratos, concorrência desleal e infraestrutura precária, é preciso ampliar os canais de comunicação com a sociedade e analisar as tendências de mercado, para induzir a demanda e fidelizar os clientes. Somente com a gestão baseada na ciência dos dados será possível assegurar uma administração mais moderna e a melhoria contínua dos serviços. A inovação é instrumento fundamental para a transformação e modernização dos serviços.

Nos painéis 6 e 7, o foco das discussões foi a descarbonização da frota de ônibus urbano e a nova matriz energética para a redução de emissões. Os dois temas suscitaram grandes discussões sobre a importância das mudanças tecnológicas para a produção de um serviço mais sustentável, de mais baixo custo, de melhor qualidade e mais acessível à população que utiliza o transporte coletivo.

É bem verdade que ainda falta uma política nacional para a descarbonização da frota de ônibus urbanos e para a utilização de veículos não poluentes ou com baixa emissão de gás carbônico (CO2) óxidos de nitrogênio (NOx) e material particulado (MP). Entretanto, as tecnologias já disponíveis no mercado brasileiro possibilitam uma comparação quanto à disponibilidade tecnológica, confiabilidade dos modelos existentes e razoabilidade dos investimentos e dos custos operacionais, para uma solução específica para cada projeto ou localidade. O início da utilização dos motores EURO 6, o uso de veículos movidos à tração elétrica ou a gás biometano, o emprego de biocombustíveis (biodiesel e diesel verde) ou de motores movidos à célula de hidrogênio podem ser considerados como um movimento sem volta, na direção da redução das emissões veiculares, que pioram a qualidade de vida nas cidades e comprometem a saúde pública de seus habitantes. A mudança do perfil tecnológico dos ônibus urbanos que circulam nas principais cidades brasileiras é só uma questão de tempo.

No que se refere ao tema “A evolução dos Sistemas Inteligentes de Transporte (ITS) e dos meios de pagamento”</em>, objeto do painel 8, as discussões versaram sobre os novos sistemas de programação e gestão de rotas e de frotas, o monitoramento da operação dos veículos, a aplicação do conceito de mobilidade como serviço (Maas), bem como sobre a diversificação, ampliação e modernização dos meios de pagamentos. A utilização de mais tecnologia embarcada, o uso intensivo das redes 5G, da internet das coisas (IoT), da internet das pessoas (IoP) e da internet do espaço (IoS) provocarão uma verdadeira revolução na forma como as pessoas realizarão suas viagens, em futuro muito próximo, colocando a tecnologia a serviço dos clientes do transporte público.

No terceiro dia, os dirigentes e técnicos da Associação Brasileira das Empresas de Transporte Terrestre de Passageiros – ABRATI, da Associação Nacional dos Transportadores de Turismo e Fretamento – ANTTUR e da Federação das Empresas de Transportes de Passageiros por Fretamento do Estado de São Paulo – FRESP discutiram alguns temas de interesse do setor, com destaque para os debates sobre governança ambiental, social e corporativa (ESG) das empresas, tratando de princípios que devem nortear as ações empresariais com o fim de promover um impacto social significativo na sociedade.

O evento hospedou, ainda, a realização de um ANTP Café, com a participação de Sebastião Melo e Rogério Cruz, prefeitos de Porto Alegre e de Goiânia, respectivamente, de reunião do Conselho Diretor da Associação Nacional das Empresas de Transportes Urbanos – NTU, de reunião da diretoria da Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores – ANFAVEA, de reunião da diretoria da Associação Nacional dos Fabricantes de Ônibus – FABUS, de reunião do Conselho de Gestores do SEST/SENAT e de uma reunião do Fórum Nacional de Secretários e Dirigentes Públicos de Mobilidade Urbana.

O sucesso do Seminário Nacional da NTU e da Feira Lat.Bus pode ser considerado, de fato, como um marco no reposicionamento dos transportes coletivos de passageiros como serviço público essencial e estratégico, dever do Estado e direito da população.

Francisco Christovam
Presidente da Associação Nacional das Empresas de Transportes Urbanos – NTU e do Sindicato das Empresas de Transporte Coletivo Urbano de Passageiros de São Paulo