Especialistas divergem sobre a necessidade de novo modal

26/02/2024

Fonte: O ESTADO DE S. PAULO

Efeito eleitoral não é consenso e discussão se relaciona sobretudo ao fato de ser mais um plano para o centro, que já é mais acessível

Vice-presidente de Atividades Técnicas do Instituto de Engenharia, Ivan Whately define o VLT como um "transporte amigável", pela menor velocidade de tráfego, maior integração com o entorno e baixo impacto ambiental. Ele cita exemplos mundiais de sucesso, como os de Paris, Melbourne, Sydney e Rio - instalado na antiga zona portuária por meio de uma operação urbana.

Para o especialista, o VLT ainda não é tão difundido no País em parte porque se continua a investir nos mesmos modelos há décadas. "Algumas cabeças não conseguem ver além das rodas de pneu e motor a diesel jogando fumaça", diz.

Opinião distinta tem o pesquisador Guido Otero, urbanista e integrante do conselho gestor do PIU Setor Central. Ele considera que valor gasto no projeto deveria ser investido em outras iniciativas, especialmente de políticas sociais e habitacionais. "Não é uma prioridade para o centro, que é o lugar que mais tem mobilidade. Não é demanda da população que mora e trabalha no centro, é mais voltado para turismo." Ele também questiona o motivo de a Prefeitura ter retomado o projeto publicamente a um ano das eleições. "Ficam especulando com projetos para o centro, dos quais a maioria não sai do papel", afirma. Especializado em gestão e política pública, o economista André Marques avalia que um VLT envolve estudos complexos, com um nível de incerteza importante e implementação em médio ou até longo prazo. Portanto, não afetaria tanto a eleição. "Projeto desse porte, para ter algum anúncio durante o mandato, precisa começar cedo, no dia -1 do mandato." Ele também cita que diversas mudanças são comuns ao longo dos estudos, inclusive com adaptações para ampliar ou reduzir o escopo. Na prática, por vezes, a execução fica distinta do que foi ventilado inicialmente. Além disso, o especialista comenta que diversas capitais têm discutido mudanças nos centros, o que inclui o VLT e até meios de restrições de tráfego. "Não é uma característica única de São Paulo, o centro se esvaziando ao longo do tempo. É um desafio bastante comum de grandes cidades." ELÉTRICO. Doutor em Engenharia com foco em Mobilidade Urbana e consultor, Luiz Vicente Figueira de Mello Filho avalia que o VLT tem a vantagem de ser um elétrico que não exige fiação, diferentemente dos trólebus. Destaca, contudo, que o projeto precisa ser bem delineado, para não repetir os erros do "Fura Fila". O hoje Expresso Tiradentes teve diversos atrasos e problemas, incluindo a empresa contratada.

Há 21 projetos similares em desenvolvimento no País O nome do projeto, Bonde São Paulo, faz referência aos antigos bondinhos elétricos (que operaram até 1968 na capital paulista). Como os bondes, esses veículos trafegam em um trilho ao lado das faixas para automóveis e afins. Externamente, lembram vagões de metrô, com fluxo mais silencioso e sem tanta vibração.

Um levantamento mais recente da Associação Nacional das Empresas de Transportes Urbanos (NTU) sobre empreendimentos de mobilidade aponta 21 projetos de VLT em desenvolvimento no País. Divulgado em agosto, o material indicava dois sistemas em obras e quatro em operação.

Na capital paulista, o VLT chegou a ser anunciado para o transporte de passageiros entre o metrô e o Aeroporto de Congonhas (e também foi discutido para ir até Cumbica e para a zona leste), após um acordo entre as três esferas de governo. Posteriormente, optou-se pelo monotrilho.

VLT DA BAIXADA. Na Baixada Santista, o VLT está próximo de completar uma década em operação. Hoje, liga São Vicente até o Porto de Santos, mas está em obras de expansão de um novo trecho santista. Além disso, o governo do Estado estuda a ampliação até Praia Grande.

Editoria: METRÓPOLE