Só 2 empresas de SP recarregam ônibus com energia 100% limpa

02/04/2024

Fonte: FOLHA DE S. PAULO - SP

Apenas 2 das 7 empresas que já operam com ônibus elétricos na cidade de São Paulo confirmam usar alternativas de energia 100% limpa ou renovável para recarregar as baterias de seus veículos.

A Transwolff, que roda na zona sul do município e tem 78 veículos elétricos em sua frota, diz comprar energia de fonte eólica por meio de mercado livre, onde consumidores de média e alta tensão negociam diretamente com comercializadoras o preço e o tipo da eletricidade.

A empresa é responsável por 66% da frota elétrica já em operação na cidade, que até a última quarta-feira (27) tinha 118 veículos com baterias recarregáveis no lugar de motores a diesel, segundo a SPTrans, estatal responsável pela gestão do transporte público municipal.

A MobiBrasil, que tem a zona sul paulistana como base, conta com seis desse tipo de ônibus nas ruas e também afirma recorrer ao mercado livre para compra de energia renovável. "A empresa que comercializa esta energia compra de diversas fontes eólica e solar, mas a maior parte é solar", diz.

A Folha questionou as sete empresas que já iniciaram a eletrificação da frota. Dessas, três disseram usar energia de origem convencional e que não têm planos de mudança para outras fontes por enquanto. Viação Gato e a UP-Bus não responderam.

No caso do transporte sobre trilhos, ViaMobilidade (linhas 8 e 9 do trem metropolitano e linha 5 do metrô) e a ViaQuatro (linha 4 do metrô) dizem que 95% da energia utilizada para alimentação dos seus trens e estações são de fontes renováveis. Metrô e CPTM também vão ao mercado atrás de ofertas energéticas e têm planos sustentáveis.

Não há um regramento para que as viações paulistanas adotem energia com garantia de ser 100% limpa na recarga de seus ônibus.

Ao ser questionada sobre o tema, a SPTrans afirma, sem apontar modelos a serem escolhidos, que "a matriz energética do país é composta essencialmente por fontes renováveis, como as hidrelétricas, usinas eólicas e fotovoltaicas", e que que devido às características geográficas do Brasil "a matriz elétrica é uma das mais limpas do mundo".

De acordo com Agostinho Celso Pascalicchio, professor na área de economia de energia da Universidade Presbiteriana Mackenzie, o sistema elétrico brasileiro, totalmente interligado, possibilita que a energia produzida em qualquer lugar do país seja distribuída até o ponto de carga.

Uma mudança na regra permite, desde o início do ano, que consumidores como supermercados, hotéis, hospitais, grandes restaurantes ou pequenas indústrias escolham se querem continuar ligados na distribuidora tradicional ou migrem ao mercado livre de energia (não é o caso das residências).

Essa alteração beneficia diretamente as garagens de ônibus com eletrificação de suas frotas, lembra o professor.

SPUrbanuss (Sindicato das Empresas de Transporte Coletivo Urbano de Passageiros de São Paulo) diz que as empresas estão estudando as melhores estratégias. São elas, entre outras justificativas como redução de custos, que fazem as duas empresas de São Paulo "irem às compras" por fontes mais sustentáveis.

"Para a empresa não fazia sentido recorrer a outro tipo de energia, sendo que o foco é a mudança da matriz energética indo para uma mais sustentável", afirma a Transwolff.

O discurso da MobiBrasil é semelhante. A empresa diz que a escolha reflete compromissos de sustentabilidade e preservação ambiental.

A eletrificação do transporte público na cidade, entretanto, precisa mais do que projetos verdes. José Roberto Moreira, professor sênior do Instituto de Energia e Ambiente da USP (Universidade de São Paulo), alerta que a cidade vai ter de investir em seu sistema de distribuição.

"A rede precisará ser aumentada", afirma. "Vai ser preciso investimentos em subestações e nas garagens, nem tanto na rede elétrica", completa.

A gestão do prefeitro Ricardo Nunes (MDB) colocou como meta substituir 20% da frota de 11.950 ônibus da cidade (ou seja, 2.400 veículos) por modelos movidos a energia limpa até o fim de 2024, mas ela está longe de ser alcançada.

Atualmente, 309 veículos elétricos circulam pela cidade de São Paulo. Desses, 108 são a bateria e 201 são trólebus, carros movidos por tração elétrica, conectados na rede aérea alimentada pela concessionária Enel.

Autor(a): Fábio Pescarini